243 449 807
História

Crê-se que o território desta freguesia já estaria povoado, pelo menos, desde os alvores da Nacionalidade. Pelo Arneiro das Milhariças passou Mem Ramires, no reinado de D. Afonso Henriques, comandando os bravos combatentes que conquistaram Santarém aos mouros. As tropas vinham de Coimbra, caminhando apenas durante a noite, refugiando-se nas matas e nos pinhais durante o dia para se acobertarem dos olhares da mourama. Terá sido num desses pinhais, perto do Arneiro das Milhariças, que foi recolhida a madeira destinada à construção das escadas que iriam permitir a tomada do castelo. Na data aprazada partiu então o exército, que, por caminhos escondidos, se chegou alta noite e em silêncio aos muros de Santarém. Reza a tradição que lançada uma escada às muralhas, a mesma caiu com um grande estrondo. Desperta a sentinela árabe que pergunta: Men-hú?. Responde-lhe em árabe também, Mem Ramires: "Gente de fé!" Apaziguado o vigia, conseguem subir aos muros um grupo de cristãos, atacando a guarnição desprevenida.

Esta freguesia estaria ainda ligada a dois acontecimentos marcantes da Historia de Portugal. As invasões francesas foram de grande repercussão para a vida e memória coletiva deste povo. Em 1810 o General Massena, à frente das suas tropas, semeou o pânico e a miséria, saqueando, incendiando e matando, não sendo as mortes em maior número, porque uma grande parte da população fugiu para a borda de água. O outro acontecimento não foi nefasto para esta terra, ao invés, e recordado com certo orgulho por ter este povo recebido galhardamente as forças liberais de D. Pedro que comandadas pelo Marechal Saldanha, de Rio Maior se dirigiam a Pernes, onde eram esperados pelas tropas de D. Miguel. O duplo topónimo tem sido explicado da seguinte maneira: Arneiro, conforme os dicionários da língua portuguesa, significa terra arenosa, e, realmente é como são os terrenos onde este lugar se situa, delgados e arenosos. Milhariças deriva de próximo do Arneiro ter existido um núcleo populacional designado por aquele nome e do qual ainda hoje restam alguns pequenos vestígios. Haverá também elementos documentais referindo a existência daquele lugar

Um mês depois da criação da freguesia esteve já construída a igreja paroquial da invocação de S. Lourenço, graças ao empenho e dedicação de todo o povo que a 11 de Fevereiro de 1694 a entregou ao cura Pedro Correia da Costa. Existe uma Confraria do Senhor, instituída no ano de 1772, O templo tem três altares e quanto a imaginária pode-se admirar S. Lourenço e N. Sra. do Rosário no altar-mor, e Santo Antonio e N. Sra. dos Remédios em cada um dos outros dois. Uma das características deste povo é o seu amor e apego à terra que os viu nascer e isso é perfeitamente demonstrado no saboroso ritual utilizado pelo juiz das Festas de S. Sebastião quando recebe o mandato da anterior comissão. "Aceito de bom grado a bandeira da nossa terra amada e juro-vos que prometo interessar-me pela festa com todo o entusiasmo da minha alma".

Segundo notícias num livro de arquivos históricos português da povoação da estremadura no século XVI. O Arneiro das Milhariças em 1527 tinha 13 fogos. Ainda pertencia ao concelho de Alcanede. Segundo memórias paroquiais em 1858 tinha 157 vizinhos (ou fogos) e 418 habitantes.

Em 1938 contava com 1190 habitantes.

Em 2000 tinha cerca de 1200 e 400 fogos.


  • Invasões Francesas (1807 - 1809)

    Falar das Invasões Francesas é falar um pouco da história das nossas aldeias. As invasões que se deram em Portugal nos anos de 1807-1808 e 1809, foram momentos de apuros para o nosso povo uma vez que os franceses não vinham para trabalhar, mas sim para comer e beber o que os Portugueses tinham nos celeiros e nas adegas. Pois o que os franceses vieram fazer a Portugal não foi mais que comer e beber o que os Portugueses por cá tinham, causando assim grandes danos a Portugal. Num trabalho de recolhas que efetuamos no Arneiro das Milhariças apareceram-nos coisas bastante interessantes, que um dia terão bastante interesse para os seus naturais. A igreja implantada num outeiro do Arneiro serviu de cavalariça aos invasores enquanto cá estiveram. Os militares mais destacados desta invasão tinham como habitações e tomavam as suas refeições, no prédio que é hoje das famílias de Amândro Guedes, junto da Igreja do Arneiro. As cozinheiras, mulheres do Arneiro das Milhariças, eram funcionárias dos invasores de certa importância. Por isso os comandos franceses impunham nas mesmas, que os invasores lhes guardassem um certo respeito. E então os oficiais mais graduados determinaram que as cozinheiras usassem um chapéu de palha de três cantos, para serem conhecidas das outras mulheres em serviço. Não podendo qualquer invasor faltar ao respeito às cozinheiras. Uma das cozinheiras de serviço dos invasores chamava-se Tia Inácia que viveu em 1807 no tempo das invasões.

  • Ex-Combatentes da 1ºGuerra Mundial

    Foram encontrados os seguintes ex-militares que prestaram serviço na 1ª Grande Guerra (1914-1918), naturais da Freguesia do Arneiro das Milhariças:

    Nome Nº Identificação Militar Data Nascimento
    António Alegre 1917-A-3687 06-Abril-1896
    António Costa 1915-A-3866 02-Junho-1894
    António Justino 1917-A-3695 08-Setembro-1896
    António Justino 1917-A-3695 08-Setembro-1896
    Augusto Costa    1915-A-3869 26-Julho-1894
    Elviro Louro (b)  1916-A-3620 14-Junho-1895
    Filippe Vicente  1915-A-3870 29-Setembro-1894
    Henrique Nunes  1916-A-3622 26-Outubro-1895
    João Vicente 1915-A-3871 14-Fevereiro-1894
    Joaquim Costa 1917-A-3693 23-Abril-1896
    Joaquim d'Almeida 1917-A-3622 21-Outubro-1896
    Joaquim da Bernarda Desconhecido
    Joaquim Henriques 1916-A-3623 11-Dezembro-1895
    Joaquim Nunes 1914-A-3844 08-Abril-1893
    Joaquim Santo Amaro 1913-136 20-Abril-1892
    José Cordeiro Campino 1917-A-3704 11-Outubro-1896
    José Lopes 1914-A-3846 27-Abril-1893
    José Petulante 1914-A-3847 22-Dezembro-1893
    Julio lopes 1917-A-3696 27-Maio-1896
    Manoel da Silva Talhão (a) 1915-A-3876 04-Julho-1894
    Manuel da Silva Desconhecido 04-Julho-1894
    Manuel Martinho 4 18-Julho-1892
    Victorino dos Santos 1914-A-3851 06-Outubro-1893

    (a) Medalha de Cobre de Campanha e Expedição à França em 1917-1918

    (b) Medalha Comemorativa da Expedição a Moçambique com a legenda: Moçambique 1917-1918 

  • Cronologia

    1583 - Convento de nome S. João Baptista, fundado por trades que tinham por seu superior D. de Alencastre.

    1598 - Data em que esta freguesia deixou de pertencer ao concelho de Alcanede para pertencer a Pernes onde se conservou até 24 de Outubro de 1855.

    1608 - Construções da capela dedicada a S. Leonardo.

    1675 - Construção da Igreja Matriz de invocação a S. Lourenço.

    1694 - Criação da Freguesia, de 2ª Ordem e tem como orago S. Lourenço - Igreja Matriz foi entregue ao respetivo pároco, então chamado Cura e com o nome Pedro Correia da Costa, começaram-se a realizar os tradicionais festejos em honra do mártir S. Sebastião, comemorando-se em simultâneo a criação da freguesia.

    1772 - Criação da Confraria do Senhor.

    1875 - Em resultado de uma reforma da divisão judicial do País, o Arneiro das Milhariças deixou de pertencer à Comarca de Torres Novas e passou para a Comarca de Santarém.

    1894 - Construção das pontes do porto da Igreja e do porto de Vasco que vão desaguar no rio Alviela.

    1911- O Convento de Frades transformou-se em lagar de azeite.

  • Memórias

    Padre Tavares Zanancho

    Nasceu em Travassou e faleceu no Arneiro das Milhariças em 14 de Fevereiro de 1903. Foi pároco no Arneiro das Milhariças durante longos anos. Foi um Padre muito popular que passou pela aldeia, fazia muito convívio com o povo entrando e bebendo nas adegas. Falou-se que tinha relações com mulheres.

    Os sermões

    Segundo o Sr. José Leite Pereira de Avelar grande proprietário desta freguesia, com que o Padre Zanancho muito convivia, este ia fazer muitos sermões à vila de Coruche e levava 12 tostões. Os outros Padres que iam a Coruche levavam 15 tostões. Como ele levava mais barato os outros padres fizeram queixa ao vigário de Santarém este chamou-o a Santarém chamando-lhe  a atenção por quais os motivos que ele levava os sermões tão baratos. O Padre Zanancho disse, se o Sr. Vigário ouvisse os meus sermões nem tão pouco me dava 1 tostão por eles.

    USAVA UM PAU - Padre Tavares Zanancho usava um pau e sempre que era necessário usava-o em sua defesa. Era padre mas não estava com contemplações por vezes usava-o e atirava mesmo ás pessoas. Um dia levou uma grande cachaporrada com um par nas proximidades de um vizinho, Joaquim Vicente Pitorro. O padre sempre que por ali passava fugia dessa casa na qual lhe perguntavam o porquê e respondia que tinha apanhado uma cachaporrada de um cão.

    Sebastião Francisco Botas - "Chigadinho"

    Nascido no Arneiro das Milhariças em 17 de Fevereiro de 1885 e faleceu a 17 de Março de 1971.

    Foi grande acordeonista na sua época e bom pedreiro. Os seus pais pobres, mandaram-no guardar cabras ate aos 15 anos, ou seja até 1900. Sempre muito entusiasmado pela música, comprou o seu primeiro acordeão em 1909. O acordeão era de duas ordens, que para a época era muito bom. Aprendeu a profissão de pedreiro em Alcanena com o José da Gouxaria, que exercia o cargo de regedor na freguesia do Malhou. Também sempre muito entusiasmado pela sua profissão, onde granjeou grandes amigos, aprendeu a desenhar habitações com o mestre Sr. Domingos que vivia também em Alcanena.

    Ovellho "Chigadinho" também foi desenhador. Ganhos estes acontecimentos para a época foi mais um valor para a sua nobre profissão de construção. Com mais estes conhecimentos nunca mais lhe faltou trabalho sobretudo em construções novas na região. Tinham fama as velhas chaminés e até as frontarias com desenhos, interessantes da época, nos prédios que construía. Também as semalhas das construções tinham bons acabamentos, havendo mesmo uma certa arte.

    Concurso de acordeonistas em Abrã

    O Tio Sebastião o mais conhecido pelo "Chigadinho" tomou parte num concurso de acordeonistas, nos festejos que se realizaram em Abrã. Neste concurso, onde havia grande expectativa, perante concorrentes de certo nome na música de acordeão na região, estavam presentes, os seguintes acordeonistas: Luisico de Aldeia de Além, Manuel Luiz de Tremes, um acordeonista de Amiais de baixo e um de Alcanede e o Tio Sebastião "Chigadinho" do Arneiro das Milhariças. Segundo os júris o concurso deu a vitória ao Arneirense "Chigadinho". A moda que o Tio Sebastião executou foi a moda do "Chigadinho" muito bem executada por ele, ganhando assim o concurso. Foi por isto que o tio Sebastião levou o apelido de "Chigadinho" nome que era conhecido na região.

    Acordeonistas nos bailes e nas cerimónias na igreja

    Era muito divertido. Fez bailes e carnavais em várias aldeias vizinhas e tocava muito na igreja do Arneiro das Milhariças, sobretudo pela Quaresma, com música religiosa acompanhando estas cerimónias, por vezes nas viagens para alcanena.

    Como trabalhava em Alcanena de pedreiro ás Segundas-Feiras, quando fazia bailes, as noites eram dolorosas, pois tinha que fazer as viagens a pé por atalhos, de madrugada na direção do Malhou e Louriceira, por vezes com o sono batia com a cabeça nos pinheiros e outras árvores, que se encontravam ao longo do caminho, o que era preciso era cumprir quando ia tocar e quando ia trabalhar de pedreiro.  

    Um dos últimos trabalhos num restauro da igreja

    Atendendo a que o Tio Sebastião era um pedreiro de uma certa competência, no ano de 1965 foi convidado para fazer umas obras de restauro na Igreja Paroquial do Arneiro das Milhariças. Os trabalhos tinham um certo melindre tais como, trabalhos em arcos, em ogivas e semelhas e pilastras do exterior, junto a torre da Igreja, todos esses trabalhos feitos em alvenaria de massa e cimento e nada de pedra, mas quando os trabalhos estavam concluídos os mesmos so pareciam uma autêntica pedra da serra de onde os canteiros faziam as cantarias.

    Na igreja

    Um dia o tio Sebastião quando estava a trabalhar na Igreja, desceu dos andaimes e foi beber um copinho, bebida que ele muito adorava, o Sr. Antonio Martins ex-empregado do Sr. Antonio Mena responsável pelo restauro das obras em conjunto com o professor Pereira disse ao Sr. Mena o que viu fazer o Sr. Sebastião e então o Sr. Mena foi logo falar com este dizendo-lhe do seu desagrado, de ir beber vinho nas horas de trabalho. A resposta do "Tio Chigadinho" não se fez esperar dizendo o seguinte: Compadre Mena e Sr. Prof. Pereira- "eu não tinha nada e os meus pais pouco ou nada tinham, eu já arranjei com os dentes para comer com os amigos. Eu já tenho oitenta e tal anos, não preciso mais de trabalhar, eu simplesmente estou a ajuda-los para que não fiquem mal vistos!... e eu não faço mais trabalho nenhum para o acabamento das semelhas e pilastras etc. Porque não há pedreiros nenhuns nestes arredores competentes, para o acabamento destes trabalhos. Depois o Sr. Mena e o Sr. Prof. Pereira como o Tio Sebastião não quis ir trabalhar. Foram a Alcanena falar a outros pedreiros mas estes atendendo ao melindre do trabalho não o vieram fazer. E os responsáveis da obra voltaram a contratar o velho Sebastião Botas para ele acabar o trabalho na Igreja do Arneiro.

    Dados de seu filho Fernando Carvalhal Botas em 28-8-1991

    Uma história do tio Joaquim Mena Calado

    Ao lume havia um garoto que estava a cozinhar! Passou um padre e disse o que estás a fazer? e o que é o almoço? Então olha lá como te chamas? Respondeu - sou assim Sr. Prior - Então queres ir para meu criado? Quero sim Sr. Prior - chegou a casa perguntou-lhe como era o nome da criada.

    - Não sou Sr. Prior sou o Papa em Deus. Então como sapatos não e um sapato, mas e um camifato- então como se chama aquilo é bom - não é lume e uma inclemência e como se chama a criada é os braços de São Pilatos.

    E o palheiro é estância. E o gato é o papa-ratos. E o lume é a inclemência. As chouriças é almas santas...

    Depois o Sr. Padre foi-se deitar e o que faz o criado no fim, encheu o saco de chouriços, no fim atiçou um bocado de estopa ao rabo do gato e disse, levanta-te Papa em Deus vai acudir ao Papa-ratos, vai com inclemência no rabo e acode com abundância que leve o diabo a instância, foi ao pé do Padre e confessou com a cara - e disse - e as vizinhas perguntaram-lhe, e ele perguntava se tinha visto o criado - o que vimos o Sr. Prior todo esforçado.

    Conversas típicas do Arneiro

    O padre José da Moita e o seu Sacristão Filipe

    Faltava o azeite na Igreja do Arneiro das Milhariças! O Padre José perguntava ao Sacristão Filipe, pelo azeite do pote da Igreja.- E o Filipe dizia que não estava a ouvir nada.- E o Padre José varias vezes lhe perguntava pelo azeite. E a resposta dele foi sempre a mesma- Sr. Prior- venha você aqui para este lado- e o Padre foi- o Filipe diz ao Padre- Sr. Prior- O dinheiro das almas onde e que ele esta!... E o Padre diz...! Bendizes tu Filipe que deste lado não se houve nada.

  • Quadras

        Quadra 1    

    Dá-me uma pinga de água Não me a dês por uma infusa Dá-me pela tua boca Que é agora o que se usa Tendo um amor na Cumeira Tendo outro nos Casais Tendo outro no Arneiro Tendo três não quero mais

    Quadra 2

     Está uma pomba pousada No telhado da igreja Tenho ouvido dizer!... Ninguém logra o que deseja!

    Quadra 3

     Se me vires aos ais na rua Não te rias ganha dó A pobreza veio ao mundo Mas não foi para mim só O meu amor está lá longe Está longe não o vejo Deus lhe dê tanta saúde Como eu para mim desejo

     

    Quadra 4

    Tenho ouvido dizer Que é pobre quem não casa Mas eu já tenho um amor firme Que me vai falar a casa Tu dizes que não me queres Olha a tua ingratidão Como é que tu has-de querer As coisas que te não dão

     

    Quadra 5 

     Tenho sede amor dá-me água Não me a dês pela panela Dá-me pela tua boca Que eu não tenho nojo dela Debaixo da oliveira É que é o namorar Tem a folha miudinha

Mais nesta categoria: Tradições »

Freguesia de Arneiro das Milhariças
Praça 20 de Janeiro, nº 18
2000-433 Arneiro das Milhariças
Telf: 243 449 807

Serviços

Facebook

IR PARA
TOPO
Our website is protected by DMC Firewall!